Agustín Barrios Mangoré (1885 – 1944) foi um dos maiores compositores e violonistas da história da música para violão. Nascido em San Juan Bautista, no Paraguai, Barrios combinou virtuosismo técnico, imaginação poética e um profundo senso de identidade cultural latino-americana. Sua obra é considerada fundamental no repertório do violão clássico, não apenas por sua qualidade musical, mas também por sua expressividade única e estilo inconfundível. Desde jovem, Barrios demonstrou enorme talento musical. Estudou no Colegio Nacional de Asunción, onde teve contato com filosofia, literatura e línguas, o que influenciaria sua abordagem profundamente intelectual e artística da música. Como violonista, foi autodidata inicialmente, mas logo recebeu formação com professores locais e começou a compor e se apresentar ainda na juventude. Sua carreira como concertista o levou a percorrer toda a América Latina e, posteriormente, a Europa. Era conhecido por suas apresentações carismáticas, nas quais muitas vezes se apresentava com trajes indígenas guaranis e usava o nome artístico “Mangoré”, em homenagem a um lendário chefe guerreiro guarani. Esse gesto não era apenas estético, mas uma afirmação de identidade: Barrios se via como um mensageiro da cultura americana, especialmente indígena, por meio da arte europeia do violão. O catálogo de Barrios é vasto e diversificado. Suas composições incluem obras profundamente líricas, como Un sueño en la floresta e La Catedral, peças com influências do folclore sul-americano, como Danza Paraguaya e El último canto, além de estudos técnicos e transcrições de obras barrocas. Ele foi também um dos primeiros violonistas a gravar discos, ainda nas décadas de 1910 e 1920, o que ajuda a preservar a autenticidade de sua interpretação. Entre suas composições mais emblemáticas, La Catedral se destaca como uma obra-prima do repertório violonístico. Dividida em três movimentos, ela reflete o contraste entre o mundo espiritual e o cotidiano urbano, inspirado por uma visita de Barrios à Catedral de San José, no Uruguai. A peça mescla influências de Johann Sebastian Bach com a sensibilidade melódica e rítmica da América Latina, exemplificando a habilidade de Barrios em fundir tradições distintas. Embora tenha vivido com poucos recursos e muitas vezes à margem dos grandes centros musicais, Barrios deixou um legado gigantesco. Sua obra foi redescoberta e promovida com entusiasmo a partir da segunda metade do século XX, graças ao trabalho de violonistas como John Williams, que o considerava um dos maiores compositores para violão de todos os tempos. Agustín Barrios Mangoré faleceu em 1944, em San Salvador, El Salvador, deixando um legado que transcende fronteiras geográficas e estilísticas. Hoje, ele é celebrado não apenas como um virtuose, mas como um poeta do violão — um artista que deu voz às emoções, paisagens e culturas de seu continente por meio de cordas e madeira.