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O Que é o Método de Carlevaro e Como Ele Pode Ajudar

30 de abril de 2025, às 19:00
Por João Vital Araújo

Entre os diversos métodos de ensino e técnica do violão clássico, o Método de Abel Carlevaro se destaca por sua abordagem inovadora e profunda. Criado por um dos maiores violonistas e pedagogos do século XX, esse método rompe com tradições engessadas e oferece ao estudante uma nova forma de entender o instrumento — com base em ergonomia, liberdade de movimento e consciência corporal.

Neste artigo, você vai entender o que é o Método de Carlevaro, quais são seus princípios fundamentais e como ele pode transformar sua forma de tocar violão clássico.

Quem foi Abel Carlevaro?

Abel Carlevaro (1916–2001) foi um violonista e compositor uruguaio, amplamente reconhecido por sua atuação como intérprete e, sobretudo, como pedagogo. Ele dedicou grande parte de sua vida ao desenvolvimento de um método técnico completo que buscasse a naturalidade no movimento, a eficiência física e a expressividade musical.

Seu método é usado até hoje em conservatórios e por violonistas profissionais em todo o mundo.

O que é o Método de Carlevaro?

O Método de Carlevaro é uma abordagem científica e prática do estudo do violão clássico, cujo objetivo é eliminar tensões desnecessárias, melhorar a performance técnica e evitar lesões. Em vez de seguir fórmulas rígidas de postura, Carlevaro propõe que o aluno entenda o funcionamento do corpo ao tocar — respeitando suas particularidades.

Ele desenvolveu seu pensamento em uma série de livros, sendo os mais conhecidos:

  • “Escola de la Guitarra” (School of Guitar)
  • “Cuadernos” (Cadernos Técnicos I ao V)

Princípios fundamentais do método

1. A técnica deve ser funcional, não mecânica

Em vez de decorar posições, o estudante deve compreender como e por que os movimentos são feitos. Cada gesto deve ter uma função musical, evitando automatismos vazios.

2. Postura livre e ajustável

Carlevaro propõe o abandono do apoio tradicional da perna esquerda em banquinho, sugerindo uma postura com apoio no joelho direito ou uso de suportes modernos (como ergoplay ou gitano). O objetivo é manter a coluna ereta e os ombros livres, preservando a saúde do músico.

3. Movimento de pivô e alavanca

Ele ensina que a mão esquerda deve usar movimentos de pivô (rotação do punho) e alavanca (movimento dos dedos com base em apoio e equilíbrio) para economizar esforço e ganhar precisão.

4. Mão direita como geradora de som, não só como executora

A mão direita deve buscar a produção de som com peso, apoio e controle, e não apenas com velocidade dos dedos. Isso melhora a qualidade sonora e evita estalos ou ataques agressivos.

5. Separação entre estudo técnico e estudo musical

Carlevaro valoriza exercícios técnicos puros (sem música), mas sempre com consciência. Ele defendia que a técnica é um meio, e não um fim. Após dominar o movimento isolado, ele deve ser levado para o repertório com fluidez.

Benefícios do Método de Carlevaro

  • Redução de dores e tensões musculares;
  • Melhora significativa na precisão e controle dos dedos;
  • Maior consciência corporal ao tocar;
  • Clareza e consistência sonora;
  • Desenvolvimento de um estudo mais eficiente e inteligente;
  • Autonomia técnica para resolver problemas em qualquer repertório.

Como aplicar o método na prática

1. Estude os Cuadernos Técnicos

Os cinco cadernos de Carlevaro são progressivos e abordam temas como:

  • Independência dos dedos da mão esquerda;
  • Dedilhado na mão direita;
  • Ligados, deslocamentos e saltos;
  • Controles de timbre e volume.

🎯 Eles podem ser estudados mesmo por iniciantes, desde que com acompanhamento ou orientação didática.

2. Use um suporte ergonômico

Evite o uso tradicional do banquinho. Adote suportes que permitam alinhar o violão ao centro do corpo, facilitando o acesso a todas as regiões do braço.

✔️ Isso ajuda a manter a postura neutra e previne dores.

3. Grave-se para observar seus movimentos

Ver como você está tocando ajuda a identificar tensões, movimentos desnecessários e falhas técnicas. Carlevaro incentivava a autoanálise constante.

4. Leve os conceitos para o repertório

Após estudar um movimento em exercício técnico, aplique-o diretamente em uma peça que você está estudando. Isso cria a ponte entre técnica e música real.

Exemplo: se você praticou pivô no caderno, use-o em trechos de ligados no Estudo 1 de Carcassi.

Quem deve estudar pelo método?

  • Iniciantes que querem formar uma base técnica saudável;
  • Estudantes intermediários que desejam corrigir vícios;
  • Avançados e profissionais que buscam refinar a sonoridade;
  • Violonistas com dores ou lesões, como tendinites ou tensões crônicas.

Mesmo quem não segue o método à risca pode se beneficiar de seus princípios.

Considerações finais: Carlevaro é mais que técnica — é consciência

O Método de Carlevaro vai além da digitação. Ele ensina o músico a ouvir o próprio corpo, entender seus limites e buscar eficiência no gesto. É um caminho de autoconhecimento técnico e musical.

Se você deseja tocar com liberdade, beleza e sem esforço excessivo, estudar o método de Carlevaro pode ser uma das decisões mais inteligentes da sua trajetória no violão clássico.

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